segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Viver não é sobreviver

Pensei muito antes de escrever esse texto. Pensei em escrever de forma motivacional. Depois seria apenas um texto contando uma historia. Mas vamos lá escrever e ver onde as palavras me levam. Hoje em dia se fala muito em feminismo e de como as mulheres são diariamente assediadas pelos homens. Então venho aqui deixar a minha parte do relato. Desde muito nova você já sabe que não pode passar em frente de construção. Porque não importa se você é bonita ou feia, magra ou gorda, nova ou velha. Eles vão mexer com você. Você aprende que passar em frente de boteco, daqueles que só tem homem, também não dá certo e começa a evitá-los mesmo que o caminho fique mais longo. Quando eu tinha então meus 15 anos, depois de muitos assovios, palavras de baixo calão e medo de passar em alguns lugares...Aconteceu. Eu estava no ponto do ônibus, indo para a escola. O ponto do primeiro ônibus era deserto até a chegada de uma mãe com a filha. Mas não demorava muito pra elas chegarem, em torno de 5 minutos depois que eu chegava. Mas nesse meio tempo um carro parou na minha frente, com apenas um homem dentro. Ele tirou seu pênis para fora e começou a se masturbar. Só parando quando o ônibus parou atrás dele e junto chegou à mãe com a filha. Eu já tinha ouvido historias, sabia que a qualquer momento ele podia sair dali e tentar me pegar à força. Mas eu fiquei paralisada pelo medo. Eu olhava as pessoas que passavam pedindo ajuda. Um homem até chegou a ver o que aquele do carro estava fazendo. Mas passou reto. Nem se dignou a olhar para mim. Achei então que a culpa era minha. Eu não podia ficar indo de shorts pra escola. Ia chamar a atenção deles. E então eu não ia poder reclamar depois. Quando meu namorado começou a me xingar eu também achei que era minha culpa. Quem mandou perguntar porque aquela mulher tava chamando ele de amor. Quem mandou falar que ele não podia me sufocar tanto e me perguntar a cada dois segundos onde eu estava, brigando se eu não respondesse. Quem, meu Deus, quem sou eu pra falar que é um absurdo que ele tenha pego um cano de metal pra bater no meu companheiro de trabalho só porque ele não queria me deixar sozinha no caixa as 23 da noite em Barão Geraldo. Então eu merecia os xingos. E quando começou a não ser o suficiente eu merecia os tapas. Eu merecia os empurrões contra a parede. Afinal porque eu iria querer ir embora depois de uma briga? Eu tinha que ficar ali e ele podia me dar chutes se fosse preciso. Então quando chegou o dia em que ele me enforcou eu sabia que seria o fim. Eu não ia errar mais. Ele não ia deixar. Estava tudo bem agora. Tentei me matar uma semana depois disso. Ele continuou a me xingar, a me bater e como eu não era nada, me estuprou quando eu disse não. Foi como renascer das cinzas. A Priscilla que eu era antes foi voltando aos poucos. A minha coragem também. Ainda demorei para conseguir tirar ele da minha vida. Mas eu consegui. E prometi a mim mesma que nenhum outro homem ia me tratar daquela forma. Alias, descobri que isso não é homem. De certa forma acho que consegui me perdoar por tudo isso. A mulher aprende desde cedo que tem que tomar cuidado com os homens. Que eles não prestam. Que eles só vão querer uma coisa com você: sexo. O que não te ensinam é que se você namorar um cara assim e deixar ele fazer isso com você...Só você mesma pode se salvar. Porque sabe...Nem todos são assim. Você vai encontrar alguém que queria fazer amor e não sexo. Aquele que vai te machucar porque quer o seu bem. Aquele que nunca vai te comparar com outra mulher porque pra ele você é única e ponto final. Aquele que sabe que um ‘não’ é simplesmente um não. Aquele que vai saber de tudo o que aconteceu na sua vida e vai dizer: você não sabe quão forte você é. E pela primeira vez na vida você vai acreditar e não duvidar nem por um segundo. Esse texto é motivacional para mim mesma. Não importa as merdas que já passou na minha vida. Não importa que um dia tudo estava tão fodido que eu não conseguia ver mais nada. O que importa é que eu fui forte e renasci. O que importa é que eu sempre vou ser forte e nunca mais desistir. O que importa é que eu encontrei alguém que me vê e gosta do que vê. E quando eu o vejo eu gosto do que eu vejo. O que importa... É que eu não preciso mais sobreviver, eu posso viver!

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